7 de abril de 2013


“O dia nasce. Finjo não ouvir os pássaros, apenas fecho as janelas e a noite volta para mim. Tranco-me no quarto e olho para o tecto branco que reflecte a penumbra da ternura maior que o tempo - tempo este, mais lento que o coração. Da boca salta o grito, um hino de dor, hibernado no âmago do pântano que é o meu peito perdido, estocado no meio de um nó que custa desatar, custa um mar inteiro que derramo no travesseiro. Quero aplaudir de pé o vazio que venceu a imensidão, esse vazio que se alastra para dentro de mim e pouco se importa com o meu sofrer, cuspindo a realidade: o prelúdio para o fim, a pesada caminhada num deserto em direção à água, a chuva que nunca vem para acalmar a alma, o nada. O nada. Fecho os olhos para esconder do mundo o quanto é fundo o meu chorar. E o sono, coitado, espera de lado a água sair e dar espaço para enfim poder sonhar.”

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